Um dos mais respeitados e eloquentes vereadores do Legislativo de Santa Maria, Werner Rempel (PPL), elevou o tom contra os manifestantes que ocuparam a sede da Câmara, na tarde desta quinta-feira. Para Werner, que foi militante estudantil na época da ditadura militar (1954-1985), os jovens, que em sua maioria compunham o ato, equivocam-se ao agir de forma arbitrária e ao desprezar o diálogo com o principal interlocutor da Casa do Povo, o vereador Werner.
_ Perguntei para um deles que parecia, a meu ver, representante deles a quem eu deveria me reportar. Afinal, eu queria estabelecer um diálogo inicial. Mas para a minha surpresa, de forma hostil, o rapaz me disse que "não temos representantes e que muito menos temos lideranças". Nesse momento, ficou claro de que eles não vieram, aqui, para conversar ou dialogar. Eles queriam, sim, apenas bagunçar.
Tiago Aires, vice-presidente do PSol e integrante do Bloco de Lutas, afirma que "o bloco é um conjunto de representações". Por isso, ele diz ser complicado que todos os manifestantes tenham, de fato, um único porta-voz.
Werner entende de que os manifestantes poderiam ter se valido de outras ferramentas democráticas, que a Casa dispõe para, então, se manifestarem:
_ Temos instrumentos democráticos, como a Tribuna Livre. Não entendo o motivo de tanto extremismo. Eles agem como se não vivessem em uma democracia.
Werner chegou a enviar um ofício ao Comando da Brigada Militar de Santa Maria em que "solicitava que a BM tomasse providências para a manutenção da ordem no Parlamento a fim de que pudessem ser realizados os trabalhos":
_ Agora, é aquilo: quando alguém entra na tua casa de forma desrespeitosa tu deves, sim, colocá-la para fora.
Manifestantes e vereadores também repercutem ocupação
Um dos vereadores mais visados durante a ocupação, que durou menos de uma hora, o parlamentar João Ricardo Vargas (PSDB), que é autor de projeto de lei que proíbe os cidadãos de usarem máscara ou qualquer artefato que oculte o rosto em manifestações públicas, foi o mais lembrado pelos manifestantes.
_ Não vivemos mais em uma ditadura _ esbravejou uma moça, em meio a gritos e a batucadas, ao vereador tucano.
Vargas não respondia às provocações. De vez em quando, o tucano apenas balançava a cabeça em contrariedade às ironias ditas a ele. À imprensa, na garagem do Legislativo, o parlamentar foi enfático:
_ Sou cuidadoso quando sou provocado. Como soldado, fui treinado para isso (receber provocações). Jamais vou reagir. Agora, quem usa máscara é bandido. Entendo de que se a sociedade não reagir, ficaremos reféns dessa gente. Hoje, eles invadem a Câmara. Amanhã ou depois, será a prefeitura ou o judiciário.
Do lado dos manifestantes, Tiago Aires acredita que o Legislativo não tem cumprido com o seu papel de agente fiscalizador quando o assunto é a passagem do transporte público:
_ A Câmara simplesmente não levou o debate do transporte para dentro da Casa. A Câmara é omissa e parece ignorar os direitos da população. Que Legislativo é esse?
"